Review “O Meu Pai Voava”
- jessicafilipasantos
- há 5 dias
- 2 min de leitura
Cruzei-me com este livro em inúmeros locais e sem saber bem porquê, sentia sempre curiosidade de lhe pegar, mas nunca tinha coragem de o levar comigo para casa.
Até ao dia em que o voltei a encontrar, na Feira do Livro na Ericeira.
Hoje posso dizer-vos que é um daqueles livros de que precisava e não fazia ideia.
Soube desde o primeiro momento, que seria para mim, pesado de ler. E foi.
Senti que me esmagou o espírito a cada página, de uma forma doce e avassaladora ao mesmo tempo. Talvez por serem memórias tão fortes, que por vezes fizeram eco a algumas das minhas. Talvez pelas referências a Álvaro de Campos.
A forma como a morte nos envolve com um “baque” é quase palpável, nestas páginas.
A dor de ver uma pessoa desaparecer aos poucos, às mãos do Alzheimer, estilhaça-nos por dentro. E ainda assim não nos prepara para o fim definitivo.
A culpa e as saudades, que se sentam à mesa com o luto.
Esta nunca poderia ser uma review como as habituais, por se tratar das memórias de alguém que perdeu o pai. Um pai que quase acreditamos conhecer, a cada recordação partilhada.
Mas se puder citar uma das partes mais impactantes, então será esta: “A devastação causada por uma morte súbita é semelhante a uma avalancha. O choque esmagador do inesperado, a incredulidade.
Uma morte lenta é uma morte anunciada. Vemo-la aproximar-se devagar, abeirar-se de nós. Quando, enfim, chega é esperada, ainda que nos apanhe sempre de surpresa. Ainda que, na verdade, não estejamos preparados para a receber.
Traz consigo um certo alívio que nos custa a todos confessar em voz alta. O alívio acarreta um sentimento de culpa, tem qualquer coisa de proibido e indizível, mas reconforta-nos, amortiza o choque da morte.” (Páginas 125, 126)
O livro “O Meu Pai Voava”, de Tânia Ganho, foi o primeiro que li desta autora e será sempre uma das minhas recomendações literárias preferidas.
⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Jéssica Filipa Santos
Comentarios