Review "D. Maria II - Tudo por um reino"
- jessicafilipasantos
- 17 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Durante as últimas semanas, fiz uma viagem diferente. Uma viagem, pelas páginas já amareladas pelo tempo, de um livro que me deu a conhecer uma menina-rainha tão resiliente, como provavelmente existiram poucas.
Esta história começa no Paço de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em novembro de 1826. Embarcam comigo?
De olhos claros e canudinhos louros, Maria da Glória é uma menina cheia de luz, que adora ouvir a mãe contar a história do seu batizado, na varanda dos papagaios coloridos; que escuta atrás das portas e espreita pelas fechaduras; e que, quase nunca deixa que os morangos cheguem à cozinha, para se transformarem numa sobremesa deliciosa.
Irrequieta por natureza e de uma coragem incrível, cresce envolta no amor que sente pela mãe e na relação difícil com o pai… se ao menos a Marquesa de Santos não existisse…
Mas se este livro nos fala sobre coragem, então não podemos esquecer o papel importante que as mulheres da sua vida tiveram, e talvez por isso os diários e as cartas destas personagens, como a Marquesa de Aguiar, Leonor da Câmara, e a rainha Vitória de Inglaterra, se tornem tão deliciosamente importantes.
E é assim, através destas memórias escritas, que vamos conhecendo mais sobre a “Causa Portuguesa”; sobre a grande viagem a Inglaterra, as cores de George IV e a amizade inseparável com a então princesa Vitória.
Sozinha aos 15 anos, Maria da Glória lutou por um trono quase roubado, para aportar a um país em tumulto, dividido entre absolutistas, revolucionários e radicais, onde “(…) os militares passam frente ao passo e insultam a rainha (…)”.
Num rodopio constante de políticos, raramente em concordância, entre os quais o duque de Palmela, o duque de Saldanha e o Conde de Tomar, o governo dos destinos do país foi uma missão a que nunca faltou. Nem mesmo, com a segurança da fragata de bandeira britânica sempre à vista.
A perda do primeiro marido, as saudades do Brasil e da família que lá ficou (e da que perdeu), e a política intensa e desorganizada pautam os seus dias.
Se pudesse ao menos ouvir o barulho das cigarras da sua primeira casa, ver “(…) a pedra das casas, as flores dos jacarandás (…)”, então talvez tivesse o aconchego certo.
Mas nem assim Maria da Glória perde a esperança, por acreditar que a Primavera volta sempre.
É com esta garra que conhece o segundo marido, que ficou conhecido como rei-artista.
D. Fernando traz consigo o amor e a casa cheia com que sempre sonhou.
Através da “trupe” da rainha; do sonho concretizado do Palácio da Pena; dos desenhos a carvão, que registam os momentos em família e, da magia do Natal - como a que a mãe lhe tentava mostrar, através dos livros que lhe lia nessa noite, quando era ainda uma criança.
Aos 34 anos, Maria da Glória parte, como consequência de uma alimentação excessiva e de mais um parto (o 11º), desta vez fatal.
E nós desembarcamos, em Lisboa, no Palácio das Necessidades, em novembro de 1853.
Não sei quanto a vocês, mas para mim, foi uma viagem e tanto!
Se tivesse que escolher uma palavra para caracterizar D. Maria II, resiliência seria a que me iria surgir no pensamento certamente. Aos dias de hoje, talvez fosse melhor compreendida.
Sem dúvida, mais um livro incrível de Isabel Stilwell, que nos apresenta Maria da Glória, como a menina-rainha que encantou todos com quem se cruzou, deste ou do outro lado do oceano.
E claro, a melhor parte? Saber que os diários da «avó da Europa» são inspirados nos verdadeiros!
Quando devolvi o livro (de onde tirei as fotografias que vos deixo abaixo), à Biblioteca de Sintra, senti que deixava um bocadinho de mim naquelas estantes, por isso mal posso esperar pelo próximo. Há qualquer coisa de especial em requisitar livros.
Espero que este já esteja na vossa lista de desejos deste Natal 😊
Jéssica Filipa Santos
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