Escrevemos

Não sei se alguém um dia pensou em questionar os autores porque escrevem, não acredito que queiram mesmo saber o que os atormenta ou emociona.

Mas se perguntassem, diria que a resposta seria algo parecido com o isto.

Escrevemos porque temos o peito em turbilhão, pensamentos um tanto profundos sobre tudo o que nos rodeia.

Escrevemos porque são a poesia e a prosa que nos matam devagar e nos trazem à vida com toda a energia. Porque lemos nas palavras dos outros os sentimentos que são nossos, e porque as nossas palavras arrepiam os outros quando leem nelas os seus próprios sentimentos.

Escrevemos porque não cabe dentro de nós tudo o que sentimos, tudo o que somos. Porque sentimos sempre demais, sem querer. Deixamos no papel bocadinhos das nossas essências, cravadas em gritos que só nós ouvimos e que só se acalmam quando escrevemos. Somos os doidos, os eternamente apaixonados. Os que fazem de uma pintura na parede, uma história de amor de papel e lápis. Mas não acredito que isso preocupe alguém.

Escrevemos porque alivia, porque alegra, porque traz um silêncio confortável.

Escrevemos porque nos deixa de coração cheio que alguém goste de nos ler. E temos a coragem de continuar a escrever, mesmo em dias em que nos pisam as folhas com desdém.

Escrevemos porque o nosso mundo se torna mais bonito assim, porque a vida ganha uma vida diferente quando o fazemos.

E nós só queremos viver, felizes – como nos parágrafos que vamos tecendo, nos livros que carregamos nas mochilas e na imaginação.

Escrevemos sobre o que nos faz sentido, mesmo que os outros não o percebam. Às vezes só pedimos que nos sintam.

Escrevemos para ter a certeza que há memórias que perduram, quando a nossa nos falhar. E vemos as estações do ano mudarem, as pessoas envelhecerem e morrerem e somos a fúria e a dúvida, o poema mais triste.

Mas também vemos novas vidas a chegar, sorrisos que trazem paz e harmonia e aí somos a luz e o calor.

Vemos o mundo girar e tudo isso ganha mais ternura quando o escrevemos.

Escrevemos porque é assim que sentimos a vida. Ou pelo menos, é por isso que eu escrevo.

- Jéssica Filipa Santos